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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - A.Schmidt - Biblioteca NM
Affonso Schmidt em Cananéia

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Affonso Schmidt teve  marcante presença em Cananéia, no litoral Sul, onde ambientou o livro O Tesouro de Cananéa, publicado em 1941 pela Editora Anchieta, da capital paulista, com reedições pelas editoras Brasiliense (1954 a 1959) e pelo Clube do Livro (1964). No centro da cidade, junto a uma figueira, existe esta placa em homenagem pelo centenário de nascimento do escritor, fotografada por integrantes do grupo de cultura popular Zabelê Cubatão:

A placa existente em Cananéia, homenageando o centenário do escritor

Foto publicada na rede social Facebook em 14/5/2016

Sobre o livro e a figueira, escreve Roberto Fortes no blogue Alfarrábios (acesso: 15/5/2016):

Imagem: captura de tela do blogue Alfarrábios (acesso: 15/5/2016)

 

O tesouro de Cananeia

 

O escritor Afonso Frederico Schmidt nasceu em Cubatão em 1894 e faleceu em São Paulo em 1964. Autor de livros consagrados, Schmidt sempre teve estreita ligação com o Vale do Ribeira, que lhe serviu de inspiração para diversos contos. Um de seus livros tem o curioso título de "Tesouro de Cananeia". Em visita a essa histórica cidade, palco de tantas glórias para História do Brasil, Afonso Schmidt teve a oportunidade de entabular longa prosa com o velho caiçara seu Lolô, figura muita conhecida à época.

Seu Lolô era tão velho que nem ele mesmo sabia a própria idade. Sabia reconhecer as pegadas das pessoas na areia da praia, e dizia se eram de conhecidos ou de "gente de fora". Tinha olhos de bugre. Naquela época, Cananeia já era uma cidade em decadência. O fausto do tempo das armações de baleias ou dos estaleiros de navios já se perdera na pátina do tempo. Afonso Schmidt escreveu: "Às vezes o marasmo é tão profundo que dói, o silêncio tão profundo que aflige". Mas demonstrou o seu amor por Cananéia: "A cidade é velha, humilde e tem pitiú de maresia. Mas boa, boa como o pão!".

Schmidt fala da velha figueira que, segundo os antigos, fora mandada plantar pelo próprio Martim Afonso. A colossal figueira emitia eco de seu robusto tronco. A molecada chegava perto dela e gritava: "Você me quer bem?", ao que a figueira "respondia": "Bem". Ou então: "Não gosta de anão?", e a figueira: "Não". Coisas antigas de Cananeia.

Sobre o lendário tesouro da Ilha do Bom Abrigo, Schmidt ouviu do velho Lolô a seguinte história. A galera "Havelock", comandada pelo capitão Bow-Legged, tinha vindo do Pacífico, depois de aventuras na Argélia.

Ao se aproximar do Bom Abrigo, a galera bateu nas pedras e ficou encalhada. Salvaram-se apenas o capitão, o grumete Sharp (de uma escuna inglesa saqueada) e meia dúzia de marinheiros. O velho Lolô garantia que a galera naufragara na Ponta de Leste, onde, nos tempos de dantes, existiam armações de baleias. O avó de Lolô, de alcunha Piropava (curiosamente semelhante a "Peroupava", antigo bairro de Iguape) encontrara os destroços da galera. Os pescadores chamavam o local de "Saco da Galera".

De pistola em punho, Bow-Legged obrigou os marujos a transportarem as arcas para a praia. Segundo pelo jundu, chegaram a um barranco, onde o capitão obrigou a marujada a escavar um túnel de duas braças de profundidade, no qual as arcas foram depositadas. À noite, quando todos dormiam, menos Sharp, o capitão se livrou dos grumetes à machadinha. Sharp conseguiu fugir para o continente. Depois seguiu para o Rio Grande do Sul. Registrou todos os detalhes do esconderijo do tesouro em um pergaminho.

No ano seguinte, doente e prevendo morte próxima, procurou um medico, que tratou dele por alguns meses. Em agradecimento, Sharp deu ao médico o pergaminho que, mesmo guardando-o, não lhe deu grande importância. Casando uma filha, o médico presenteou-a com o pergaminho. Passados cinquenta anos, viúva, a senhora visitou, em São Paulo, o professor Eduardo Pereira, que ficou com o documento.

Em 1910, o Dr. Carlos Pereira, filho de Eduardo, foi até a Ilha do Bom Abrigo, acompanhado pelo coronel Meireles, da Secretaria da Justiça, de juízes e um ministro do Tribunal. De pergaminho em punho, localizaram o local do tesouro, mas, para a decepção geral, não conseguiram localizar o dito cujo...
A Ilha do Bom Abrigo é cheia de lendas. Dizem que vagam por lá assombrações, fantasmas com grilhões, ouvem-se soluços profundos, cochichos, rezas, pragas, uivos, gritos lancinantes. Certa feita, marinheiros de um navio norueguês decidiram pernoitar na ilha. Viram e ouviram coisas monstruosas, que os deixaram apavorados. Não pensaram duas vezes e voltaram ao mar. No antigo farol, contam que vultos misteriosos subiam pelas escadarias sob a luz bruxuleante do luar...

São histórias da velha Cananeia.

Escrito por Roberto Fortes

Capa da primeira edição de O Tesouro de Cananéa

Imagem: reprodução

 

O livro O Tesouro de Cananeia (conforme publicado pelo Clube do Livro em 1964) foi digitalizado por Araquén Medeiros e colocado na Internet no site Minhateca (acesso: 15/5/2016). Clique >> aqui << ou na capa da obra, abaixo, para obter o arquivo correspondente em formato PDF:

 

Clique na imagem para obter o arquivo correspondente em formato PDF

Capa da terceira edição de O Tesouro de Cananéa

Imagem: reprodução

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