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OS DIRIGENTES DE CUBATÃO - PREFEITURA - 04
Abel Tenório de Oliveira

De 9/4/1961 a 24/5/1964

Este prefeito cumpriu a quarta legislatura no município de Cubatão. Abel Tenório de Oliveira nasceu em Palmeira dos Índios, no estado de Alagoas, em 11 de maio de 1911. Era filho de João Tenório de Oliveira e Maria Oliveira Tenório. Foi casado com Maria Pinho de Oliveira, com quem teve dois filhos: Leinir Tenório e Leda Tenório.

Desde 1940, ano em que se mudou para Cubatão, passou a trabalhar por conta própria, comprando um caminhão para transporte de aterro. Em seguida, dedicou-se à exploração de pedreiras e à montagem de uma firma de secos e molhados, através da qual fornecia mantimentos a seus empregados, tornando-se assim um próspero comerciante. Dedicou-se também à construção de casas para alugar e à compra de terrenos. Chegou a possuir um escritório imobiliário em Santos.


Abel Tenório, em foto publicada  com uma mensagem natalina 
no dia 25 de dezembro de 1957, no jornal Folha de Cubatão

Em contraste com sua conturbada vida política, no dia de Natal de 1957 Abel Tenório publicou no jornal Folha de Cubatão esta mensagem: "Ao povo de Cubatão - Aos estrangeiros, aos sulistas e aos meus conterrâneos, desejo, neste ano de 1958, mil felicidades. Peço à força que rege o  universo que, num futuro bem próximo, possamos transformar esta terra num verdadeiro município do Brasil, onde todos os povos que aqui labutam possam viver em paz, como irmãos, sem ódio, sem vaidade e sem paixão, pois só assim poderemos criar os nossos filhos ensinando-lhes o verdadeiro sentimento de brasilidade".

Interessando-se pela política, começou candidatando-se a uma cadeira na recém-criada Câmara Municipal de Cubatão. Eleito como suplente, assumiu por alguns meses. Candidatou-se várias vezes ao cargo de prefeito, mas perdeu as eleições (em 1949, 1953 e 1957).

Em 6 de janeiro de 1956, por exemplo, o jornal Folha de Cubatão registrou fotograficamente a convenção da coligação partidária PSD-PDC-PTN, realizada no Cine Santa Rosa no dia 28/12/1955, em que Abel Tenório foi lançado candidato a prefeito, tendo como vice-prefeito Francisco Eleutério Pinheiro. Com a presença de mais de mil pessoas, lotando o local, várias personalidades discursaram naquela noite, como os deputados Emílio Carlos e Benedito Rocha e o prefeito santista Antônio Feliciano.


Flagrante do sr. Abel Tenório de Oliveira, quando pronunciava sua ratória,
na convenção da coligação PSD, PTB e PDC
Foto e legenda publicadas no jornal Folha de Cubatão em 6/1/1956

O jornal registrou trecho significativo do discurso de Abel Tenório naquela oportunidade: "Em seguida, demonstrando um estilo poético e agradável, fez uso da palavra o sr. Abel Tenório de Oliveira, que reportando-se às injúrias que contra ele são assacadas, declarou que, se um dia sacou de um revólver para matar, fê-lo exclusivamente para defender sua própria vida, e que aqueles que o caluniam não fizeram o mesmo, porque não têm cicatrizes em seu corpo e nunca sofreram atentados contra suas vidas. Disse ainda que não guarda rancores e que, se eleito, não transformará a administração em objeto de vingança, porque respeita como homens os seus inimigos".


O deputado Tenório Cavalcanti, no momento que usava da palavra, expondo seu ponto de vista referente à candidatura de seu primo Abel Tenório de Oliveira
Foto e legenda publicadas no jornal Folha de Cubatão em 6/1/1956

Na qualidade de último orador da noite, falou em seguida o deputado estadual Tenório Cavalcanti, "numa das orações mais arrebatadoras da noite, emocionando a assistência por diversas vezes" - como destacou o jornal na continuação da notícia -, especialmente quando disse: "Se Abel não promover o bem do município e não fizer aquilo que diz que fará, eu, Tenório Cavalcante, estarei em praça pública guerreando contra Abel". Segundo o jornal, Tenório acrescentou: "Ele, estou certo, despoliticalhará Cubatão".

Porém, só na quarta tentativa, na eleição realizada em 26 de março de 1961, Abel Tenório foi eleito prefeito (tomou posse em 9/4/1961) e passou a transformar a fisionomia da cidade.


Folheto usado na campanha política, em 1960/61

Em seu governo, o município foi beneficiado com obras como o aumento da extensão da Avenida Nove de Abril, a construção de um pronto-socorro e de escolas, bem como o encascalhamento das vias em toda a cidade.

Conseguiu, com sua tenacidade, uma grande vitória para o município, ao obter o pagamento de impostos pela Refinaria Presidente Bernardes, o que significou um substancial incremento na receita da Prefeitura. Mas não terminou seu mandato, pois foi assassinado em 23 de maio de 1964.

No dia 26 de maio de 1964, uma terça-feira, o jornal santista A Tribuna publicou esta matéria:


Vingança foi o móvel do crime que eliminou o prefeito Abel Tenório Oliveira

Na medida em que evoluiu há 5 lustros a progressista cidade de Cubatão, foram surgindo de modo crescente os problemas políticos no município e agravando-se nos últimos anos, quando um alagoano, ex-investigador de polícia na Capital, ali chegou e se juntou à então já numerosa população do Norte e do Nordeste que viera para a florescente cidade-sede da indústria pesada, na raiz da Serra do Mar.

Esse alagoano, que surgira em Cubatão pelos idos de 1945 como vendedor de determinado vegetal cujas fibras são indicadas para o fabrico de papel, não era outro senão Abel Tenório de Oliveira, parente próximo do deputado federal Natalício Tenório Cavalcanti, que já começava a projetar-se na política nacional como representante do Estado do Rio.

Valendo-se do parentesco e gostando de política, Abel Tenório foi aliciando amigos e eleitores para, em 1949, na primeira eleição realizada logo após a emancipação política do antigo distrito de Santos, candidatar-se ao cargo de prefeito, sendo derrotado pelo então mais prestigioso político de Cubatão, sr. Armando Cunha.

Quatro anos depois voltou a pleitear sua eleição, também sem sucesso, o que se repetiu outra vez em 1957, quando novamente derrotado pelo sr. Armando Cunha, a quem, afinal, veio a suceder em 1961, quando se candidatou pela quarta vez.

Antecedentes - Desde que iniciou suas atividades na política de Cubatão, Abel Tenório começou a rodear-se de elementos conhecidos como "jagunços", que se metiam constantemente em desordens e, pelos motivos mais fúteis, usavam facas, garruchas ou revólveres contra os desafetos.

Aos poucos, foi o forasteiro criando em torno de sua pessoa um círculo de inimizades, notadamente dos políticos nativos de Cubatão e que não se conformavam, jamais, com o crescente prestígio que Abel conquistava.

Por volta de 1952, já então dono de uma pedreira em Cubatão, Abel foi apontado como tendo auxiliado pecuniariamente um seu amigo que precisara fugir após matar a tiros de revólver, numa noite, dois pernambucanos empregados nas obras da Refinaria Presidente Bernardes, em atrito havido na praça Joaquim Montenegro. O criminoso, desaparecido então, até hoje não foi localizado.

Dois anos depois, em Piaçagüera, matou dois coestaduanos seus que tentaram matá-lo, tendo sofrido então grave ferimento cortante no pescoço, quase seccionada a carótida.

Um crime - Eleito prefeito, Abel Tenório de Oliveira, que atualmente contava 57 anos de idade e era casado pela segunda vez, teve contra si a mais vigorosa campanha oposicionista que até então havia sofrido um chefe de Executivo municipal em Cubatão.

Um de seus opositores, o vereador Aristides Lopes dos Santos, mais conhecido pelo apelido de "Dinho", comerciante e esportista benquisto, elemento de destaque na sociedade de Cubatão, conseguira, - segundo declarava publicamente - coligir provas de que o prefeito realizava transações ilícitas e que na primeira sessão da Câmara Municipal em que estivesse presente iria denunciar as irregularidades.

Coincidentemente, na véspera da sessão do Legislativo em que o vereador Aristides Lopes dos Santos deveria acusar o prefeito, foi assassinado à porta do bar de sua propriedade. O assassino, José Alves Campelo, pessoa ligada a Abel Tenório, estivera algum tempo como assalariado da Prefeitura e havia sido despedido, retirando-se para São Paulo. Nunca tivera qualquer contato anterior com Aristides Lopes dos Santos, a quem, ao que consta - nem sequer conhecia.

Dois dias antes do crime, Campelo chegara a Cubatão e tivera encontro com Abel Tenório, de quem recebera arma com a qual eliminou depois o vereador, sem motivo algum pessoal a justificar tal ato.

A fuga de Campelo com o desaparecimento que perdura até hoje sugere bem a suposição de ter sido encomendado o homicídio por Abel Tenório.

Afastado - A repercussão do crime que vitimou o estimado vereador levou a polícia a uma série de investigações e o inquérito concluiu pela participação do prefeito de Cubatão, no crime, como mandante.

Eram tão fortes as provas que o juiz da 3ª Vara Criminou decretou a prisão preventiva de Abel Tenório, que teve de se licenciar para não ser recolhido ao xadrez.

Diante dos acontecimentos, a Câmara Municipal considerou o sr. Abel Tenório impedido, situação essa que durou de 5 de março de 1963 até 5 de dezembro, quando o Supremo Tribunal Federal, tornando sem efeito a prisão preventiva, concedeu habeas corpus ao prefeito de Cubatão, que logo depois foi reconduzido ao seu cargo, após ter a Edilidade cubatense concordado com a reassunção por 8 votos contra 5, em histórica sessão.

Vingança - A impunidade de Abel Tenório e sua volta à Prefeitura reacenderam na cidade a sanha dos inimigos, que passaram a hostilizar os vereadores que votaram a favor do chefe do Executivo, ao mesmo tempo em que circulavam com insistência boatos de que parentes e amigos do vereador Aristides Lopes dos Santos iriam vingar-lhe a morte.

Um dos que constantemente faziam tal ameaça era Afonso Lopes dos Santos, funcionário do DER e irmão do edil assassinado. A mais de um amigo, dizia Afonso que somente aguardava o momento propício para eliminar Abel Tenório.

Sábado - Na noite de sábado último, comemorando o Dia da Indústria, transcorrido ontem, o Lions Clube de Cubatão promoveu sessão solene na sede do E.C. Cubatão, à rua Joaquim Miguel Couto, nº 329, ocasião em que o prefeito Abel Tenório de Oliveira, alvo de homenagem, recebeu uma estatueta de bronze.

Pouco depois das 23,30 horas, terminada a solenidade, o prefeito deixava a sede do clube acompanhado de seu secretário Marcelino Nunes Cruz e da esposa deste, Cecília Duarte Cruz, brasileira, de 37 anos de idade, residente o casal à rua Antônio Lemos n. 64.

Já no meio do passeio, Abel Tenório foi seguro pelos braços por dois adolescentes, agora identificados como Carlos Lopes dos Santos, de 17 anos de idade, e Roberto Lopes dos Santos, de 15 anos, ambos filhos do falecido vereador Aristides Lopes dos Santos.

Ao sentir-se seguro, Abel tentou desvencilhar-se, descendo com os dois o meio-fio, sem notar que por trás surgia Afonso Lopes dos Santos empunhando um revólver. Vendo seguro o prefeito pelos sobrinhos, desfechou um tiro nas costas de Abel, que sentindo-se ferido, conseguiu libertar-se dos rapazes e sacar ainda de um de seus revólveres, um "Smith and Wesson" de calibre 32.

Entrementes, Cecília Buarque Cruz, talvez atemorizada com a cena, correu para o meio da rua, procurando fugir, mas foi infeliz, pois ficou como alvo do revólver de Afonso que, no momento, dava ao gatilho pela segunda vez. O projétil foi acertar na perna esquerda da mulher, que soltou um grito e correu em direção de Abel Tenório, no mesmo instante em que, já gravemente ferido, conseguiu sacar o revólver e fazer dois disparos, um dos quais acertou em Cecília, em pleno baço, indo o projétil alojar-se no coração.

A essa altura, Afonso saltou por sobre Cecília e aproximou-se de Abel, que, perdendo as forças, tombou de bruços e recebeu mais três tiros, dos quais dois na cabeça e um nas costas, fulminando-o.

Levada agonizante para o Pronto-Socorro de Cubatão, Cecília veio a falecer antes mesmo de chegar ao dispensário.

Sepultamento - Na tarde de domingo, saindo do necrotério da Santa Casa, realizaram-se os funerais de Cecília Duarte Cruz às 16 horas, no cemitério da Filosofia, e de Abel Tenório, às 17 horas, na necrópole do Paquetá, ambos com grande acompanhamento.

Inquérito - O inquérito instaurado na Delegacia de Cubatão e presidido pelo dr. Fernando Marreiros Sarabando tem prosseguimento, com depoimentos de testemunhas oculares e declarações prestadas pelos dois menores, sobrinhos do criminoso, que confessaram suas participações no crime, procurando imobilizar Abel Tenório enquanto o tio o feria pelas costas.

Em poder de Abel Tenório a polícia apreendeu 2 armas de fogo: um revólver "Smith and Wesson" de calibre 32, com 2 cápsulas deflagradas, e uma pistola "Bereta" de calibre 6,35 mm, com a carga intacta.

Na ocasião em que estivemos na Delegacia de Cubatão, cerca das 17 horas, o dr. Fernando Sarabando aguardava a remessa dos laudos da Polícia Técnica e do Gabinete Médico-Legal, duas importantes peças que melhor servirão para instruir o inquérito.

Um reforço de 12 soldados do 6º BP da Força Pública encontrava-se em Cubatão, unindo-se aos 15 homens que compõem o efetivo do destacamento local.

Apesar da natural repercussão que o crime provocou em Cubatão, o ambiente era calmo naquela cidade, em luto oficial decretado pelo sangrento acontecimento e feriado municipal o dia, pelo transcurso do Dia da Indústria, o que levou o comércio a permanecer fechado.


Flagrante do enterro de uma das vítimas da tragédia de Cubatão, a sra. Cecília Duarte Cruz
Foto e legenda publicadas com a matéria

O mesmo jornal publicou, logo abaixo da notícia, este necrológio:

ABEL TENÓRIO DE OLIVEIRA - Faleceu dia 23 último em Cubatão o sr. Abel Tenório de Oliveira, prefeito daquele município, casado com a sra. Julieta Siufy de Oliveira. O extinto foi casado em primeiras núpcias com a sra. Maria Pinho de Oliveira, deixando desse matrimônio os seguintes filhos: Leda Tenócio Olcese, casada com o sr. Jaime Alberto Olcese, e Lenir Tenório dos Santos, casada com José Roberto Pereira dos Santos. Deixou três netos: Valéria, Wagner e Jaime.

O sepultamento realizou-se anteontem na necrópole do Paquetá.

Prontuário da Delegacia de Ordem Política e Social (DEOPS) que passou a integrar o Arquivo do Estado de São Paulo, conforme indicação enviada a Novo Milênio por João Paulo Pucciariello, que explica "É um arquivo público histórico que relata detalhes dos fatos que culminaram com o falecimento do ex vereador Aristides Lopes dos Santos (conhecido com o Dinho)":

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Foto de Abel Tenório, nas páginas do arquivo policial

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Imagem: reprodução parcial de página do prontuário do DEOPS. Original no Arquivo do Estado de São Paulo (acesso em 14/8/2014)


O prefeito Abel Tenório de Oliveira, retratado por Jean Luciano, na galeria dos prefeitos
Imagem: Departamento de Imprensa e Arquivo Histórico Municipal de Cubatão