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Bernardo José Maria de Lorena
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D. Maria I, rainha de Portugal

Há entre os historiadores muita informação desencontrada sobre a vida de Bernardo José Maria de Lorena. Alguns afirmam que ele nasceu em Lisboa no dia 20 de abril de 1758 (outros dizem ter ele nascido em 20/4/1756 em Campo Grande, Portugal), falecendo na capital portuguesa em 1818 (ou no Rio de Janeiro em 1819). Era filho do marquês D. Luís Bernardo de Lorena e Távora e de D. Thereza de Távora.

Devido à rivalidade dos Távoras com os então ocupantes do trono real, seu pai foi condenado à morte pelo Marquês de Pombal em 1759, acusado de atentar contra a vida do rei D. José I. Suspeita-se que Bernardo era filho bastardo do rei, sendo por isso que, junto com sua mãe, tenham conseguido escapar, ficando confinados nos conventos de Santos e de Chelas (ambos situados em Portugal).

Quando D. Maria I subiu ao trono, 19 anos depois (em 1777), Bernardo saiu do convento, ficando em companhia de Dom Nuno Gaspar de Lorena, tenente-general e governador das armas do Alentejo, e sua segunda esposa, D. Maria Ignácia da Silveira, que foram para ele como verdadeiros pais - daí alguns historiadores citarem que o nome completo deste personagem histórico seria na verdade Bernardo José Maria de Lorena e Silveira.

A rainha D. Maria I se interessou pelo jovem fidalgo: devolveu-lhe os bens de família que haviam sido confiscados e o pôs como oficial a seu serviço (mesmo nunca tendo cursado a Academia Militar). Além disso, D. Maria I exilou o Marquês de Pombal e processou os juízes que haviam condenado a família Lorena e Távora. Pouco tempo depois, para evitar que Bernardo se vingasse da morte do pai, mandou-o viajar para França e Inglaterra.

No Brasil - De volta a Lisboa, em 1786, Bernardo recebeu a carta de Conselheiro e foi nomeado, em 19 de agosto desse mesmo ano, governador (cargo então denominado capitão geral) da Capitania de São Paulo. Mas, ele só assumiu a função no dia 5 ou 7 de junho de 1788, nela permanecendo até 28 de junho de 1797, quando entregou o cargo a António Manuel de Melo Castro e Mendonça.

Assumiu então o cargo de governador da Capitania de Minas Gerais, em lugar do Conde de Barbacena, exercendo tal função até 1805 - período em que fundou a cidade de Campanha. Ainda no Brasil, casou-se com D. Marianna Angélica Fortes de Bustamante, que morreu poucos anos depois.

Bernardo José Maria de Lorena,
retratado em azulejos no monumento Padrão do Lorena, na Estrada Velha de Santos

Governador - Foi um grande administrador: são raras entre os historiadores as referências negativas à sua administração em São Paulo. Em seu governo, tratou de melhorar tanto os centros urbanos como o interior da província, reformando todos os seus meios de comunicação.

Entre os melhoramentos que fez na capital paulista, são citados a construção do quartel da cidade, do chafariz do Largo da Misericórdia e da ponte sobre o rio Anhangabaú, o calçamento das ruas, construção do Teatro da Ópera. Mandou fazer o levantamento topográfico da capital paulista e demarcou os limites das capitanias de São Paulo e Minas Gerais, participando ainda da fixação da fronteira com a América Espanhola. Elevou à condição de vila a Freguesia de Nossa Senhora da Piedade, que depois tomou o nome de Lorena.

Ele também acertou as contas da capitania com a Metrópole e equipou as tropas e os regimentos da Infantaria. Atendendo ao desejo da Coroa de fortalecer as atividades comerciais da colônia, Lorena adotou duas medidas que foram responsáveis pelo início do desenvolvimento da economia paulista: estabeleceu o monopólio comercial do porto de Santos e realizou o calçamento do caminho entre São Paulo e Santos na Serra do Cubatão, a Calçada do Lorena.

Calçada - Esse calçamento foi o mais importante dos seus trabalhos. Devido ao aumento do comércio do porto de Santos, em 1790, resolveu construir uma estrada que fosse resistente para resolver o problema do tráfego. Sua iniciativa foi no sentido de favorecer, com melhores condições de transporte, os agricultores do interior paulista.

Essa estrada calçada de pedras era em zigue-zague, para vencer o desnível de mais de 800 metros da Serra do Mar, e causou admiração nas pessoas da época, pela qualidade de sua construção. Foi a primeira estrada pavimentada com pedras no Brasil e ficou conhecida como a Calçada de Lorena.

Bernardo Lorena, que ganhou o título de Conde de Sarzedas, soube em seu governo montar uma estrutura básica que colocaria São Paulo em posição de destaque no comércio internacional. Soube ainda aproveitar a competência do Real Corpo de Engenheiros de Lisboa para brindar Cubatão com uma importante obra da engenharia colonial, levando assim o antigo povoado e entreposto de comércio ao mais alto estágio de desenvolvimento da época anterior à industrialização.

Independência - Segundo o livrete "Lorena e a Estrada da Independência", que a Prefeitura Municipal de Cubatão editou para comemorar a inauguração da Escola Bernardo José Maria de Lorena, em 19/11/1975, "Lorena aproveitou a vinda de membros do Real Corpo de Engenheiros de Lisboa, que deveriam fazer a demarcação das fronteiras do Brasil, de acordo com os termos do Tratado de Santo Ildefonso, entre Portugal e Espanha.

"De todos os oficiais do Real Corpo de Engenheiros enviados ao Brasil, o que maior contribuição deu em obras de grande significado para o desenvolvimento da capitania de São Paulo foi o brigadeiro João da Costa Ferreira. Esse oficial, que se destacara nas obras de reconstrução de Lisboa, destruída pelo terremoto de 1755, depois de executar todos os levantamentos topográficos necessários, foi quem realizou o projeto da nova estrada na Serra de Cubatão".

Segundo o arquiteto Benedito Lima de Toledo, que - segundo aquele livrete - apresentou tese de doutoramento à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, "Ferreira propôs algumas soluções técnicas que ainda hoje desafiam a nossa engenharia. Adotou, por exemplo, a solução das valas de empréstimos, utilizada modernamente na construção da Transamazônica".

A Calçada causou grande assombro inclusive a viajantes estrangeiros que por ela transitaram. "Assim - cita o livrete -, em 1808, ao subir pela Calçada do Lorena, o mineralogista e explorador John Mawe escreveu que havia 'justo motivo de espanto pela realização de uma obra tão cheia de dificuldades'. E Mawe concluía dizendo: 'Poucas obras públicas, mesmo na Europa, lhe são superiores, e se considerarmos que a região por onde passa é quase desabitada, encarecendo, portanto, muito mais o trabalho, não encontraremos nenhuma, em país algum, tão perfeita, tendo em vista tais desvantagens'."

Gustavo Beyer, que veio da Suécia, em 1813, subiu a Calçada do Lorena e descreveu-a como "obra gigantesca", afirmando ainda que ela "contribui para dar uma idéia da energia do brasileiro e da sua inclinação para grandes empresas".

A Calçada do Lorena é considerada a verdadeira Estrada da Independência, pois por ela passou D. Pedro I no histórico dia 7 de setembro de 1822. Por esse motivo, o primeiro centenário da Independência do Brasil foi comemorado com a inauguração de um conjunto de monumentos ao longo do Caminho do Mar, pelo então presidente do Estado de São Paulo, Washington Luís.

Na obra editada pela Prefeitura de Cubatão é relatado que, durante a cerimônia de inauguração, junto aos monumentos do Cubatão da Serra, Júlio Prestes pronunciou célebre discurso, do qual merece citação o trecho: "(...) por ella (Calçadaa do Lorena), os patriarchas de nossa emancipação política conduziram D.Pedro I, e as trompas da liberdade retroaram na alvorada da nacionalidade, acordando a alma alvoroçada do Brasil ao grito de Independência ou Morte!".

Portugal e Índia - De volta a Portugal, Lorena recebeu o título de 5º Conde de Sarzedas. Ainda foi nomeado Conselheiro de Capa e Espada do Conselho Ultramarino e também deputado da Junta da Administração do Tabaco. Foi condecorado com a Grã-cruz da Ordem de S. Tiago e distinguido como comendador da Ordem de Cristo.

Em 17 de setembro de 1806 recebeu o cargo de vice-rei da Índia. Entrou na barra de Goa em 27 de maio de 1807, sendo recebido com muito entusiasmo por chegar investido na dignidade de vice-rei, que em 1774 tinha sido suprimida pelo marquês de Pombal.

Estavam ainda em Goa mais de 30 mil soldados ingleses que tinham ocupado a cidade sob pretexto de protegê-la contra as pretensões francesas. No governo de Veiga Cabral, antecessor do conde de Sarzedas, eram os ingleses que governavam na prática aquele território. Mas o conde soube mostrar dignidade e força de caráter: em 1º de novembro de 1810 os ingleses começaram a se retirar, e a 2 de abril de 1813 saiu de Goa o último regimento britânico. 0 conde de Sarzedas governou a Índia durante nove anos, período em que também expulsou dali a Inquisição. Entregou o governo ao seu sucessor a 29 de novembro de 1816.

Alguns biógrafos sustentam que, de volta a Portugal, foi preso na Torre do Bugio por ter participado de revoltas contra os ingleses ou de uma conspiração contra o rei D. João VI junto com alguns nobres que desejavam o trono para o Duque de Cadaval. Após a condenação, teria sido misteriosamente envenenado em 1818. Outros autores afirmam que Bernardo de Lorena voltou ao Brasil e morreu no Rio de Janeiro em 1819.

Brasão do município de Lorena
O Brasão da cidade de Lorena evoca os principais fatos da antiga aldeia de Guaypacaré, à margem do Paraíba, junto às roças de Bento Rodrigues, onde os bandeirantes atravessavam o grande rio, em demanda da Mantiqueira e das terras dos Cataguás hoje Minas Gerais. Este fato é simbolizado pela peça principal do escudo: a barca, ao natural, sobre um rio prata, em campo azul. No alto do brasão, firmados em chefe, aparecem cinco escudetes, dos quais o terceiro se avantaja dos demais. É este o do Conde de Sarzedas, Bernardo José de Lorena, que - sendo capitão general de São Paulo - deu à Guaypacaré o predicamento de Vila, sob o nome de Lorena.

Os dois primeiros escudetes (os de destra) trazem a flor de lis e a cruz, atributos da velha heráldica portuguesa, caracterizadores patronímicos Rodrigues e Pereira, que relembram os primeiros povoadores das terras do atual município, Bento Rodrigues e João Almeida Pereira; os dois de senestra rememoram, com as arruelas e a esfera dos escudos dos Castros e Fialhos, a ação civilizadora de povoadores iminentes da região: os capitães-mores Manoel Pereira de Castro e Domingos Antunes Fialho.

Do escudo central, brasão do Conde de Sarzedas, pende de uma laçaria e de um anel a cruz heráldica chamada "de Lorena", constituindo as "armas falantes" do município. Como tenentes, à destra um bandeirante com seu gibão de armas característico, armado de arcabuz, e à senestra um soldado da guarda nacional da província de São Paulo em 1842, cuja presença evoca a intervenção vultosa de Lorena, na Revolução Liberal, dominada pelo Barão de Caxias.

No listão entrançado de hastes de cana, a principal cultura do município, inscreve-se a divisa: Pro Patriae Magnitudine (Pela maior grandeza da Pátria). Sobre a porta central da coroa mural destaca-se um escudete, com uma flor de lis a evocar que o orago de Lorena é Nossa Senhora.