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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO
Guerrilha e guerrilheiros em Cubatão


No período ditatorial iniciado com o golpe militar de 1964, ações guerrilheiras foram registradas em todo o litoral paulista, e documentos recentemente revelados mostram que um dos focos de atenção de militares e guerrilheiros estava em Cubatão e seu parque industrial, razão pela qual o município foi considerado de interesse para a Segurança Nacional, perdendo a autonomia político-administrativa.  Em sua primeira edição, em abril de 2010, o jornal cubatense SerraMar analisou a presença de guerrilheiros no município, em matéria nas páginas 1 e 3:

Nos anos 50 e 60 do século passado, a guerrilha sob inspiração comunista era um fenômeno que se reproduzia na América do Sul, na África e na Ásia

Imagem: reprodução parcial da primeira página do jornal SerraMar nº 1, de abril de 2010

 

Guerrilha e guerrilheiros em Cubatão

Documentos dos órgãos de repressão da ditadura militar (1964/1985), descobertos recentemente em uma sala fechada do Palácio da Polícia, em Santos, revelam que Cubatão - em especial seu parque industrial - foi escolhido como um dos principais alvos da guerrilha urbana de resistência ao regime. Na cidade havia um núcleo da Aliança Libertadora Nacional (ALN), um dos grupos rebeldes na época, fundado e comandado pelo ex-deputado Carlos Marighela que, segundo revelações feitas a este jornal por antigos militantes de esquerda, esteve pelo menos duas vezes em Cubatão em fins dos anos 1960.

África, ...

Foto publicada com a matéria, na pagina 3

 

.. Cuba, ...

Foto publicada com a matéria, na pagina 3

 

... Bolívia: nos anos 50 e 60 do século passado, a guerrilha de esquerda era um fenômeno mundial

Foto publicada com a matéria, na pagina 3

 

Documentos revelam presença de guerrilheiros em Cubatão, na ditadura

Cidade abrigava grupo da Aliança Libertadora Nacional (ALN)

Em 31 de março de 1964, dia em que ocorreu o golpe militar no Brasil - que duraria até 1985, uma das imagens mais fortes da ação do Exército, registrada em Cubatão, foi do coronel Erasmo Dias (recentemente falecido), de metralhadora na mão, comandando as tropas que invadiram e ocuparam a Refinaria Presidente Bernardes. Logo depois, a decretação do município como área de interesse da Segurança Nacional - com o consequente afastamento do então prefeito Luiz Camargo da Fonseca e Silva e nomeação de um interventor (Aurélio Araújo) - deixava bem claro que os militares consideravam o município área estratégica de defesa contra qualquer reação ao golpe.

As recentes descobertas, em Santos, de novos documentos secretos do Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Deops), e na Capital, da Aeronáutica, revelam que as preocupações dos militares faziam sentido.

Entre os 5 mil papéis acondicionados em cerca de 600 pastas, descobertas em uma sala fechada do Palácio da Polícia na Avenida São Francisco, em Santos, há informações sobre a existência, em Cubatão, de um foco da Aliança Libertadora Nacional (ALN), um dos vários grupos de guerrilheiros que combateram a ditadura militar, fundado e dirigido pelo ex-deputado Carlos Marighela.

Este foco, aliado a outro, formado em Mongaguá, num total de 100 combatentes, teria por missão planejar e executar atos de guerrilha e sabotagem no porto de Santos; Forte Itaipu, em Praia Grande e no parque industrial de Cubatão.

A existência desses grupos foi admitida recentemente por Agenor Ortega, na época do golpe militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), em Santos, em entrevista ao repórter Mário Cesar Carvalho, do jornal Folha de S. Paulo.

Em depoimento ao mesmo repórter, o jornalista Mário Magalhães, que há 7 anos faz pesquisa para um livro que contará a história do fundador da ALN, Carlos Marighela, considera possível a presença de guerrilheiros em Cubatão e os planos de ataques a alvos estratégicos na região. Mas não crê que Marighela tenha participado diretamente das discussões sobre o assunto. Conforme Magalhães, na época (1969) em que estariam ocorrendo as articulações, Marighela passava maior parte do tempo no Rio de Janeiro.

Contudo, a participação pelo menos indireta do guerrilheiro (que foi morto no mesmo ano, em uma emboscada do Exército e Deops, na Capital) na planificação dos atos previstos para a Baixada pode ter ocorrido, conforme um documento, em código Morse, encontrado na papelada achada no palácio da |Polícia, em Santos, e cuja autoria é atribuída ao guerrilheiro. Nela é detalhada a operação que seria levada a efeito pelos guerrilheiros baseados em Cubatão e Mongaguá.

Para Fidel Castro, minar a economia do País era uma forma de enfraquecer o regime dos generais. Ele sugeriu a sabotagem de refinarias e unidades portuárias

Foto publicada com a matéria, na pagina 3

 

Fidel Castro sugeriu sabotagem nas indústrias

As ações da guerrilha na Baixada, articuladas em 1969, acabaram não sendo desenvolvidas. Porém, o assunto voltou a ser discutido dois anos depois, desta vez não com Marighela, mas com uma estrela maior do movimento da esquerda internacional à época: Fidel Castro, ditador cubano.

Durante um encontro com exilados brasileiros, em 1971, no Chile (que era governado por Salvador Allende, morto em 1973 em um golpe militar comandado pelo general Augusto Pinochet), Fidel sugeriu que fossem desfechados ataques aos setores econômicos brasileiros, em especial na faixa Rio-São Paulo (entre esses alvos estariam o porto de Santos e o polo industrial de Cubatão).

O encontro entre Fidel e os exilados brasileiros é narrado em um dos documentos secretos da Aeronáutica, cuja existência só agora foi revelada, em reportagem do jornal Estado de São Paulo, de 23 de março último.

No informe 0027, feito pelo Exército em março de 1972, relata-se que Fidel teria orientado aos resistentes brasileiros que realizassem atos de sabotagem em unidades industriais, trabalho que, segundo ele, com gente especializada e poucos quadros, poderia ser feito com eficiência e sem riscos para os combatentes.

Fidel argumentava que a sabotagem à sustentação econômica do governo militar abalaria seus alicerces.

Os resistentes brasileiros entendiam, porém que não havia condições políticas para ataques imediatos. Seria preciso um trabalho prévio de conscientização popular, a fim de evitar que a imagem dos guerrilheiros ficasse desgastada por causa de ações daquele tipo.

Quer tenha sido por causa da precaução dos guerrilheiros; quer tenha sido em virtude das ações de defesa dos militares, a verdade é que nenhuma ação guerrilheira de vulto ocorreu na região durante o período da resistência armada à ditadura.

As ações dos guerrilheiros, no Litoral Paulista, ficaram limitadas à área rural, no Vale do Ribeira, comandadas pelo ex-capitão Carlos Lamarca, da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), morto pelo Exército em 1971, no interior da Bahia.

Carlos Marighela, fundador da ALN

Foto publicada com a matéria, na pagina 3

 

"Marighela esteve na cidade pelo menos duas vezes"

Sobre a presença efetiva de guerrilheiros da Aliança Libertadora Nacional (ALN) em Cubatão, o SerraMar ouviu dois cubatenses que atuaram na resistência clandestina e armada à ditadura. Um deles, hoje jornalista e morando em Santos, militou no Movimento 8 de Outubro, o MR8, criado pelo coronel Carlos Lamarca, que concentrou suas atividades de guerrilha no Vale do Ribeira. O outro, atualmente advogado, ainda residente em Cubatão, foi do Partido comunista Brasileiro (PDB).

O jornalista, cuja militância transcorreu já no final dos anos 1970, disse que não ouviu, nem mesmo dos primeiros militantes do MR-8, nada sobre a presença de um foco da ALN na cidade. Mas o advogado, que teve atuação no PCB a partir de meados dos anos 1960 e chegou a ser preso no DOI-CODI, na Capital, na mesma semana em que o jornalista Vlademir Herzog (morto sob tortura, na ocasião), é taxativo: "A ALN teve, sim, guerrilheiros baseados em Cubatão. Carlos Marighela esteve aqui pelo menos duas vezes", lembra.

O advogado atuou no apoio a grupos de resistência armada ligados a um setor do PCB, não tendo pertencido à ALN. "Mas as informações sobre a presença de Marighela na Cidade eram do conhecimento de todos os combatentes contra a ditadura, na época".

Militância - Fundador e principal líder da ALN, Carlos Marighela nasceu em Salvador, Bahia, em família humilde, a 4 de dezembro de 1911. Durante toda sua vida exerceu intensa militância política de esquerda. Já em 1939, combatendo o governo de Getúlio Vargas, foi preso e torturado pela polícia política.

Defendeu, desde o início, a resistência armada ao golpe militar de 1954. Fundou a ALN com tal objetivo. No dia 4 de dezembro de 1969, um dia antes de completar 58 anos, morreu metralhado na Alameda Casa Branca, na Capital, em uma emboscada armada pelo Departamento de Ordem Política e Social (Dops).

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