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NOTÍCIAS 2002

A contribuição da alma brasileira

Será que o Brasil tem mais a aprender ou a ensinar? Qual a contribuição especial que o Brasil pode oferecer ao mundo dos negócios?

Sérgio Buaiz (*)
Colaborador

Os estrangeiros que visitam o Brasil costumam se encantar com as belezas naturais, os recursos abundantes e, principalmente, com a alegria do nosso povo. A miscigenação das raças, a convivência harmoniosa entre as diferentes culturas e a facilidade que temos em nos relacionar são aspectos que chamam a atenção de todos, mas nunca se deu um real valor a isso. Continuamos absorvendo os conhecimentos e experiências que vêm de fora, como se devêssemos permanecer eternamente na condição de aprendizes.

Americanos, europeus e asiáticos souberam construir grandes nações, enquanto nós, pobres colonos, nos resignamos a importar teorias, técnicas e modelos que deram certo no exterior.

Continuamos virtualmente dependentes dos livros, PHDs e gurus que vêm de fora, com toda a pompa e reconhecimento de quem fez e aconteceu. Entretanto, as experiências que deram certo em outros climas e épocas raras vezes seguem o mesmo destino em solos tropicais. Há muito tempo já aprendemos a filtrar e adaptar esses ensinamentos à cultura brasileira, porém ainda falta compreender a nossa verdadeira vocação.

Pense bem: será que o Brasil continua na mesma condição de aprendiz, de anos atrás? Será que o nosso futuro é permanecer morando na casa dos pais, recebendo mesada e tendo hora marcada para chegar em casa? Até quando vamos ter asas podadas e sonhos limitados? Quando alcançaremos a liberdade? Quando o Brasil vai se emancipar, casar e ter filhos? O que o Brasil vai ser quando crescer?

Na História - Se tudo isso parece uma grande bobagem, releia a história do mundo e veja que as grandes nações de hoje também foram pequenas no passado. Se Estados Unidos, Japão e Alemanha se destacaram nos últimos anos, devemos lembrar que Inglaterra, Espanha, Portugal, França, Holanda e Itália também já tiveram suas épocas de ouro. Recentemente, até a Rússia foi uma grande potência. E o que aconteceu? As posições mudaram?

O que faz um país tornar-se uma potência? São as riquezas naturais? É a força bélica? É o capital? Ou é o seu povo? Ou é uma mistura de tudo isso, com pitadas de educação, preparo e oportunidade? O que será levado em consideração para o surgimento das próximas potências mundiais? O que terá maior valor de mercado nos próximos anos?

Não podemos compreender um mecanismo isoladamente. Tudo acontece de acordo com a evolução da humanidade nas diversas áreas. O avanço científico promove mudanças sociais, culturais e econômicas. Em contrapartida, essas mudanças geram novas necessidades, que estimulam a pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias. Ou seja, é um processo contínuo, de uma roda que não pára de girar!

Por isso, devemos perceber o cenário em que se encontra a nossa geração e as oportunidades que estão surgindo. Quais palavras estão em evidência? Estamos na Era da Comunicação? Era dos Relacionamentos? O ser humano está no centro das atenções? Relações humanas? Serviços? Redes? Criatividade? Improvisação? Intuição?

Há outras? - Até que ponto as características sócio-culturais do brasileiro contribuem para facilitar os relacionamentos humanos? A ausência de conflitos facilita o diálogo e a comunicação?

Quando se fala em liderança, redes, equipes e grupos de trabalho, alguns valores são fundamentais: humildade, solidariedade, respeito e consideração, por exemplo. Será que a atual geração do povo americano, acostumada a estar no centro do mundo, é humilde e solidária o suficiente para liderar uma mudança global? Será que eles, que sempre tiveram uma postura individualista e protecionista, conseguirão desenvolver o respeito e a consideração como valores genuínos em suas decisões?

Para liderar equipes, também é necessário ter uma excelente capacidade de comunicação e flexibilidade para integrar um grupo heterogêneo de pessoas. Será que os tradicionais japoneses e os frios alemães terão condições de competir com o Brasil nesse quesito? Serão eles capazes de aceitar as diferenças e receber, em suas mesas de negociações, árabes, negros, pobres e ricos, com a mesma naturalidade?

Desconsiderando as condições de dependência econômica e política do Brasil em relação aos atuais “donos do mundo”, faz sentido imaginar que o nosso povo é, senão o melhor, um dos povos melhor preparados para organizar um diálogo global sobre os rumos da humanidade? E sobre as condições ambientais e a responsabilidade do homem em relação a natureza, existe país mais propício para centralizar tais discussões?

Sobre as desigualdades sociais, concentração de riquezas e corrupção, existe outra nação que tenha vivenciado isso tão de perto? Será que existe outro povo no mundo tão exposto e comprometido com essas questões? Será que os debates sobre consciência humanitária e justiça social acontecem com a mesma intensidade, em outras partes do mundo? Será que a mídia local permite uma comunicação permanente sobre isso na África, Ásia ou América Central?

Ao que me parece, esta geração do povo brasileiro está, há vários anos, fazendo uma espécie de “estágio” sobre todos os principais problemas do mundo. Mais que isso, estudantes, professores, pensadores, empresários, consultores e políticos estão debatendo diariamente sobre como minimizar ou solucionar esses problemas, com um apoio maciço da mídia e possibilidades de interação/organização incomparáveis com qualquer outro país.

Vocação - No fim das contas, se existe um país no mundo capaz de promover qualquer mudança significativa para a humanidade, este país é o Brasil.

Existem líderes brasileiros despontando. São pessoas de todas as gerações envolvidas nessas questões, mas é a geração pós-regime militar que teve acesso a uma formação mais livre. É essa geração que vivenciou mais de perto todas as fases de plano cruzado, cruzado novo, real, impeachment, inflação, estabilidade e privatização. Essa geração conheceu os dois lados da moeda e está preparada para dar a volta por cima.

Os brasileiros que têm entre 20 e 40 anos estarão no auge de suas carreiras daqui a dez anos, ocupando os cargos mais importantes, dos governos, empresas e associações. Essa geração de brasileiros terá conhecimentos, experiências e recursos para promover mudanças significativas tanto no Brasil, quanto no exterior.

Talvez o Brasil não se torne uma potência econômica em tão pouco tempo, mas teremos um poder estratégico e político que sequer imaginamos. Através da Internet e da facilidade em se comunicar com todas as raças, essa geração de brasileiros está formando um networking mundial poderoso, conquistando a credibilidade e a confiança de outros líderes em formação, em todas as partes do mundo.

Por isso, não será um movimento individualista para substituir qualquer outro povo na hegemonia mundial. O Brasil não precisará impor condições para ser o maior e o melhor em nada, pois a sua posição central será a de facilitador.

A vocação do Brasil é promover um movimento de integração e diálogo consciente entre todos os povos. É ensinar ao mundo uma nova forma de convivência, pacífica e auto-sustentável, apontando soluções que reduzirão as desigualdades.

A vocação do Brasil é promover valores espirituais de responsabilidade social, atitude positiva e consciência, valorizando as relações humanas como prioridade. Você já deve ter ouvido dizer que "o Brasil é o país do futuro" e talvez ainda não tenha acreditado. Mas prepare-se: o futuro está próximo.

A contribuição especial que Brasil pode oferecer ao mundo de negócios será um dos principais temas em debate na oficina “Espiritualidade nos Negócios”, que acontecerá no próximo dia 4 de junho de 2002 em São Paulo. Organizada pela WBA – World Business Academy e com apoio do Instituto Ethos – Empresas e Responsabilidade Social, será uma oportunidade de complementar o Spirit in Business 2002, realizado em Nova York entre os dias 21 e 23/4/2002, com a coordenação conjunta de David Cooperrider, Peter Senge e Daniel Goleman.

(*) Sergio Buaiz é publicitário e escritor, autor do livro "Marketing de Rede - A Fórmula da Liderança", diretor de Projetos da Comunidade BeFriends, membro do conselho editorial da revista Vencer! e embaixador da Universidade do Sucesso.