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NOTÍCIAS 2002

A hora de jogar a toalha

Admitir a derrota em uma batalha pode ser a única chance do líder manter a saúde da sua equipe

Sérgio Buaiz (*)
Colaborador

Você gosta de boxe? O que acontece quando um campeão invicto começa a apanhar do seu adversário? Ele cai a primeira vez, a contagem é iniciada e ele se levanta. A luta continua até o fim do round. O médico faz curativos, o treinador grita palavras de incentivo e instruções ao seu ouvido. Recomeça a luta. Ele continua apanhando e cai pela segunda vez. Está mais ferido. E assim vai, por mais alguns rounds...

A cada término de round, todos observam que o campeão está mais ferido e fragilizado. Ele continua motivado e quer vencer a luta, mas o médico e o treinador percebem que ele não vai resistir por muito mais tempo.

O que fazer? O campeão só está acostumado às vitórias e não imagina o perigo que está correndo. Insistir nessa luta é um grande erro, pois não há nada mais importante na carreira de um atleta que a sua integridade física. A saúde é fundamental. Ele é um campeão!

Perder uma luta pode ser horrível para quem se acostumou com as vitórias, mas talvez seja apenas uma noite ruim. Talvez tenha faltado algum detalhe em sua preparação para este combate, ou talvez o adversário tenha conseguido um golpe incomum, que abalou seus sentidos antes da hora.

Não importa o que aconteceu, mas nessa noite o campeão foi derrotado. Por mais que insista, é improvável que ele consiga reverter o resultado. O risco de continuar a luta é imprevisível e não compensa. Tudo leva a crer que ele será nocauteado a qualquer momento, podendo sofrer sérias conseqüências.

O médico e o treinador sabem disso, mas e o que pensa o campeão? Ele está com raiva e quer revidar cada golpe que recebeu. Mesmo sem enxergar direito, ele investe toda a energia que resta em cada soco, mas não consegue atingir o adversário. Ele está atordoado e sua capacidade está comprometida. Como ele vai interpretar uma derrota assim? É melhor deixar que ele se mate em um combate já perdido ou antecipar sua derrota, jogando a toalha? O que é melhor, perder essa luta ou comprometer a saúde de um atleta vitorioso?

Se a luta for encerrada agora, ele terá tempo para se recuperar e buscar uma revanche. Sentindo-se derrotado, ele vai se empenhar como nunca na preparação e, daqui a alguns meses, será novamente o campeão. Entretanto, se continuar agora, haverá uma segunda chance de sobreviver? Ao sofrer uma contusão séria, quanto tempo ficará parado? E se tiver que parar de lutar? Vale a pena arriscar tanto por uma vitória como outra qualquer?

A toalha - O que é mais importante, a luta ou a carreira? Nesse momento, o treinador joga a toalha. O líder joga a toalha, pois sabe que sua equipe não tem mais condições de permanecer no combate. Ele sabe que, mais importante que vencer uma batalha isolada, é manter-se vivo em direção aos seus objetivos.

Uma derrota nunca é bem-recebida, pois compromete todo o planejamento da equipe. A estratégia precisa ser revista e perde-se um tempo precioso. A recuperação pode ser dolorosa e outras perdas podem acontecer como conseqüência, mas a derrota faz parte de qualquer jornada vitoriosa. Não há ganho sem dor, lembra?

Um líder de verdade precisa conhecer sua equipe melhor que a palma da sua mão. Ele deve ser capaz de interpretar nos primeiros sintomas de estresse, fadiga e desespero. Quando um membro da sua equipe demonstra estar fragilizado, é o momento de conversar ao pé do ouvido, instruir e motivar, repetindo o gesto do treinador. Quando há um problema mais sério ou um ferimento emocional, o líder assume o papel do médico.

A qualidade de um treinador, médico ou líder em geral, deve ser medida pela sua capacidade de identificar claramente esses sintomas e conhecer os limites do seu "atleta". Até quando é possível incentivar, empurrar, estimular... e quando é a hora de parar?

Limites - Ser líder não é orientar sua equipe até o barranco e gritar: “pulem”! Se isso acontecer e a equipe inteira se espatifar, o líder terá alcançado o seu objetivo? Se o líder não observar os limites dos seus jogadores e apertá-los até que desistam, mudem de empresa ou adoeçam, terá alcançado o seu objetivo?!! Não!!!!!!!!!!!

O papel de um líder é fazer o que for preciso para levar seu time até a vitória final, e ele deve se utilizar de todos os recursos disponíveis. Às vezes, ele terá que motivar, incentivar, empurrar... às vezes, ele precisará ouvir, consolar, respeitar, cuidar, curar...

Insistir é diferente de persistir. Nem sempre a insistência é saudável. Por outro lado, "admitir uma derrota" não é sinônimo de "desistir". Pode representar prudência, responsabilidade e confiança. Para admitir uma derrota, é preciso confiar em dias melhores! Somente os vencedores são capazes de admitir um mau desempenho. Vencedores sabem que a derrota faz parte do crescimento e estão dispostos a aprender com ela.

Quando a equipe perde, o líder deve assumir a responsabilidade pela derrota e conversar com seu time para identificar os pontos falhos da estratégia. O que precisa ser ajustado? O que precisa ser revisto?

De quem foi a culpa? Do líder, é claro. Somente o líder tem a visão global necessária para saber a hora certa de investir e de parar. O papel do líder é manter o controle dos recursos, promover substituições e se precaver para qualquer eventualidade, enquanto o papel de cada jogador é confiar no líder e dar o máximo de si.

Quando a equipe está em combate, os jogadores estão cegos. Eles enxergam somente uma parte do campo de batalha. Se um membro da equipe está fragilizado, cabe ao líder substituí-lo. Se a equipe inteira está jogando mal, é hora de jogar a toalha! Por isso, o mérito das vitórias é da equipe, mas a derrota é responsabilidade do líder.

Saiba a hora certa de jogar a toalha. Preserve a saúde da sua equipe, que é seu bem mais valioso. Seja um líder nas derrotas e a vitória estará ao seu alcance.

(*) Sergio Buaiz é publicitário e escritor, autor do livro "Marketing de Rede - A Fórmula da Liderança", diretor de Projetos da Comunidade BeFriends, membro do conselho editorial da revista Vencer! e embaixador da Universidade do Sucesso.