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NOTÍCIAS 2002 - TECNOLOGIA
Depois do Admirável Mundo Novo

Carlos Pimentel Mendes (*)

Todos nós crescemos sonhando com um admirável mundo em que a folga do final de semana seria passada em uma base lunar cultivando uma hortinha hidropônica, brincando com patos e gansos adaptados à gravidade mínima. Ou namorando uma venusiana. A odisséia no espaço estava marcada para 2001. Pois bem, estamos em 2002! Exceto um turista espacial que realizou um passeio milionário, e uma rede de pizzarias que fez uma entrega especial em uma estação em órbita, ainda estamos longe daquelas maravilhosas viagens espaciais. Entretanto, coisas com que jamais sonhamos e nem existiam dez anos atrás são agora parte de nossa rotina, como as proporcionadas pela Internet. Alguns afortunados podem até dispor de uma geladeira que faz compras no supermercado para repor o estoque, casas que "sentem" o dono chegando e já preparam o banho na temperatura certa etc.

"Bem, e daí?" - dirá o leitor (eu diria...) "Não vai fazer mais uma daquelas repetitivas comparações entre o que é e o que seria, não é?" Descanse.... Meu convite é para que reflita um pouco sobre como essas novidades ajudaram ou prejudicaram sua vida.

Banco eletrônico é ótimo, mas bando eletrônico clonando cartões de crédito... não.

Correio eletrônico facilita muito, mas não quando despeja 300 mensagens por dia (e você só recebia umas poucas cartas de papel por semana...), e você precisa perder pelo menos um quinto de seu dia produtivo apenas examinando a correspondência, agora na forma também de correio de voz e de vídeo, caixa postal no celular, secretária eletrônica e pilhas de papel (que você ingenuamente acreditou que seriam eliminadas pela chegada do computador).

Ver o mundo por webcams é ótimo, bisbilhotar o que a pioneira Jennifer faz em sua casa com webcams nos Estados Unidos ou o que os artistas nacionais fazem em uma casa repleta de olhos eletrônicos pode ser divertido, mas ter sua privacidade eliminada pela vigilância constante e onipresente dessas câmeras... não.

Passamos da fase do deslumbramento com as novidades. Se eu lhe disser que inventaram o que quer que seja, você acredita. Mesmo porque, se for mentira, dentro de algumas horas será verdade. Longe o tempo em que o astronauta pisou na Lua e metade do mundo, ao ver a transmissão, dizia que só podia ser truque de cinema. Antes, as pessoas tentavam frear a vida, prolongar o presente porque temiam o futuro. Agora, elas parecem querer acelerar a vida, antecipar o futuro, para se livrarem do presente... Por quê?

Transição - Talvez a explicação esteja em que temos cada vez mais consciência de que estamos em um período de transição. Esta é uma fase doida e doída, pois já não é e ainda não passou a ser. As pessoas ficam sem referências em que(m) se apoiar. Não sou guru para dizer se nossos netos verão o fim dessa transição, pode ser que ela se eternize. Mas, com certeza, nós não veremos esse fim. Então, resta-nos imaginar que toda exceção tem uma regra, e conviver com isso. Tentando encontrar a regra.

De que forma? Usando com acuidade máxima todos os sentidos (inclusive o sexto). Usemos as webcams para ver e ouvir mais longe, a Internet para alcançar coisas longínquas para nossos passos, equipamentos eletrônicos telecomandados como a extensão de nossos braços. Sem esquecer que não temos mais os tradicionais apoios sob os pés, então precisamos formar redes de relacionamentos que nos amparem na queda e nos dêem impulso para novos saltos.

Isso vale para as "pessoas físicas" e as "pessoas jurídicas", ambas cada vez mais abstratas em termos de definição, já que uma pessoa física às vezes representa uma comunidade inteira e a pessoa jurídica na prática é tão física como eu mesmo. Sua empresa e sua vida particular são cada vez mais afetadas e dependentes do bater das asas de uma borboleta em Cingapura, acredite ou não. Portanto, aponte sua webcam para a borboleta e fique atento, não vá ela causar um vendaval em sua vida.

Falando menos abstratamente: se o seu pai e o seu avô se gabavam de permanecer 30 anos em um mesmo emprego - o famoso relógio folheado a ouro como supremo diploma de qualidade em serviços prestados -, hoje o seu trabalho é continuamente testado e substituído por outro, por melhor que seja. Isso não implica em demérito algum, é que simplesmente o mundo se transforma a todo instante (transição contínua, lembra?) e força cada um de nós a mudar também. Perder o emprego ou o mercado para seu produto/serviço significam apenas que o curtíssimo ciclo de vida desse produto/serviço acabou, está na hora de você lançar uma novidade que traga o futuro para mais perto do presente, como todos querem.

Combinar diversidades - Como fazer isso? Mais simples do que parece. Você não precisa ser gênio inventivo, nem dispor de recursos extraordinários. Apenas use o que já existe e o que você conhece. Observe o que falta ao seu redor e crie, supra essa necessidade. Costumo dizer em palestras para estudantes: esqueçam as carreiras tradicionais, tentem criar diferenciais através da combinação de duas áreas de conhecimento. Em vez de advogados e médicos, sejam advogados especializados em questões médicas. Ou médicos dedicados a pesquisar as doenças que atingem mais os advogados.

Façam principalmente o que mais gostam, pois o que dá prazer não é trabalhoso, diverte mais e - por ser feito com mais dedicação e apuro - costuma trazer melhores resultados práticos. Apreciam histórias em quadrinhos, informática e engenharia? Criem uma ciber-banca de revistas. Ou um videojogo no estilo dos quadrinhos. Ou um carro com alguns dos recursos de Bat-Móvel. Ou um prédio que o Homem-Aranha apreciaria. Ou projetem um complexo aquático estilo Aquaman... Creiam, há mercado... Bem, havia, enquanto você pensa alguém talvez esteja realizando.

Não por acaso, lembrei de um princípio de Jornada nas Estrelas, o IDIC - Infinita Diversidade em Infinitas Combinações. Apenas combine dois ou mais conceitos que venham à sua imaginação, por mais absurdos que sejam, e tente extrair daí uma atividade rentável. Como o sujeito que criou um cemitério virtual para bichinhos virtuais (tamagochis, lembra?). Ou o que oferece enviar fezes de cachorros e gatos, em primorosas embalagens, aos desafetos dos seus clientes.

Nesta primeira mensagem da seção Tecnologia, vale o recado genérico. Em um mundo com 6 bilhões de habitantes, cada vez mais interligado, sempre haverá mercado para o que de mais espantoso sua imaginação possa criar. Quanto mais espantoso, melhor. O desafio nem é mais criar, mas dizer a esse imenso mercado, ávido por novidades espantosas... que você tem uma novidade espantosa! Como usar os recursos da tecnologia para isso, é o que veremos a seguir...

(*) Carlos Pimentel Mendes é jornalista, editor do jornal eletrônico Novo Milênio. Artigo publicado em conjunto com a revista eletrônica The CyberEconomist