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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 05/31/01 00:27:56
Internet Udigrudi 

Ana Maria Gonçalves (*)
Colaboradora


"Quando a gente não pode fazer nada, a gente esculhamba". 
(Paulo Villaça, em O Bandido da Luz Vermelha, 1967, filme de Rogério Sganzerla)

A frase acima é extraída de um dos filmes mais representativos do Cinema Maldito, ou Cinema Udigrudi, como preferia Glauber Rocha ao "tupinizar" a palavra underground. Grande parte do conteúdo disponibilizado na Internet hoje também está nesta fase udigrudi

Na década de 60, fez grande sucesso, inclusive internacional, o Cinema Novo, com filmes como Terra em Transe, Brasil Ano 2000 e O Bravo Guerreiro. Tinham um forte apelo nacionalista, buscando desvendar e entender a cara do País, suas mazelas, seu povo, suas privações, tradições e contradições. Veio então a repressão militar, com o AI-5, institucionalizando a censura e uma sensação de grande impotência e derrota. Então, diante da impossibilidade de se continuar fazendo um cinema de alerta e conteúdo, parte-se para a "esculhambação", com o Cinema Udigrudi.

Não a esculhambação no sentido pejorativo, mas como experimentação de uma nova linguagem, de uma nova maneira, até subentendida, de se contar uma história. É o artesanato do desespero, sem grandes verbas ou pretensões, mas sim para dar continuidade à produção nacional. É o cinema de autor, que não se importa em utilizar clichês, metáforas, frases feitas, e até o deboche masoquista. 

A história, às vezes, era uma série de colagens e fragmentos, sem muita profundidade ou continuidade de tema e ação. Muitas produções baratas, auto-sustentáveis e com forte apelo comercial (sexo e aventura). Como os filmes nascidos na Boca do Lixo, em São Paulo, que na década de 70 evoluíram para a pornochanchada. Era o cinema das massas, buscando atingir o maior número de pessoas, não importando muito como ou com que.

Com a sétima arte era proposital, consciente e circunstancial. E com a Internet, esta oitava arte? Será também proposital?

Já vimos o filtro dos negócios eletrônicos mandar para o ralo muita pontocom despreparada, sem conteúdo, sem planejamento, caída de pára-quedas num mercado novo e ascendente. E, acredito que agora poderemos ver muitos sites ou portais udigrudi indo pelo mesmo caminho.

A Internet é um meio extremamente interessante de propagação e democratização da informação. Aqui, as idéias e opiniões se multiplicam na velocidade de, não quadros por segundo, mas bits por segundo. O que nos faz estar muito mais atentos à rapidez com que estas informações envelhecem. Quando o tema é conteúdo, não há clássicos.

Novo meio - Já vimos acontecer aqui a grande corrida, onde a empresa "precisava" estar na Internet a qualquer custo. E, rapidamente, passava para a telinha as informações constantes em seus folhetos e catálogos, sem se tocar que estava lidando com um novo meio de comunicação, com linguagem e dinâmica completamente diferentes. Hoje, a maioria destes sites está esquecida, desatualizada, com promoções do mês anterior, propagando uma novidade de um ano atrás, ou, pior ainda, com uma última atualização datando de dois ou três anos.

Em situações como estas, não há quem volte algum tempo depois procurando novidades.

Outra grave situação é o site de autor. Aquele na qual a empresa não percebe a necessidade de interagir com seu público, de produzir e veicular uma informação pertinente com as suas necessidades e expectativas. Na maioria das vezes, o internauta já sabe exatamente o que procura quando entra em determinado site. Não encontrando, ou tendo dificuldade em encontrar, parte para outro. 

Seria bom que estes diretores de sites udigrudi se esmerem um pouquinho mais na produção. Antes que queimem o filme de uma vez por todas.

(*) Ana Maria Gonçalves é publicitária e escritora em Jundiaí/SP.