Suprema crueldade?
No final do
ano passado teve muito internauta furioso, pensando em até que ponto
pode chegar a maldade humana. Certa empresa anunciou pela Web a venda de
gatinhos de estimação muito especiais, criados através
da técnica "Bonsai Kitten" (gatinhos Bonsai). Imagine um gato recém-nascido
confinado num recipiente cúbico de vidro transparente com menos
de 20 centímetros de lado. O vidro tem uma tampa de boca larga de
modo a permitir introduzir o bichano e a facilitar a manipulação
de tubos.
Ao crescer,
os ossos do animalzinho se amoldariam às paredes do invólucro
e assim passaria ele o resto da vida, vegetando dentro de um vidrão.
Seus dejetos seriam retirados através de um tubo. Sua alimentação
seria feita usando um outro tubo, pelo qual seriam introduzidas também
no animalzinho drogas que amoleceriam seus ossos, atrofiariam seus músculos
e afetariam seu sistema nervoso. Para conhecer em detalhe o terrível
processo, incluindo fotos impressionantes, visite <www.animales.com.mx/hola.html>
ou http://es.onelist.com/message/adpca/923.
O site original
da empresa Bonsai Kitten Inc., com sede em Nova York e dirigida pelo Dr.
Michael Wong Chang, entrou no ar no dia 10 de dezembro, no endereço
<www.bonsaikitten.com>. As
instruções sobre como tratar dos gatos anômalos eram
detalhadas. Advertiam os clientes novatos para não enclausurarem
os gatinhos no vidro sem antes providenciar furos de ventilação
no recipiente, pois isto invariavelmente resultaria na morte deles por
asfixia.
Ensinavam como
escolher diferentes formatos para os recipientes de vidro, moldando gatinhos
em forma de prismas, cilindros, estrelas e outras mais. Segundo os que
visitaram a página original, as instruções sobre gerenciamento
dos excrementos entravam em minúcias as mais sórdidas possíveis,
com uma naturalidade inacreditável, coisas que só poderiam
mesmo ser fruto de mentes completamente doentias.
A comunidade
da Internet ficou revoltadíssima e iniciou um movimento mundial
de protesto que teve na Itália e na Alemanha suas repercussões
mais fortes. Como resultado, o site acabou sendo retirado do ar 12 dias
depois de ser criado. Mas, como bem sabemos nessas intermináveis
correntes de protesto via e-mail, é impossível interromper
um movimento assim de uma hora para outra. Às vezes leva meses,
anos, ou mesmo, em alguns casos, nunca se consegue matar uma corrente assim.
E agora, uma vez que recebi a primeira mensagem em português exortando
iradamente os destinatários a repassarem a cruel notícia,
talvez seja uma boa idéia cortar logo o mal pela raiz.
Sobre todo
o caso Bonsai Kitten, é imperativo dizer: foi tudo uma brincadeira.
É um hoax, nada mais. Não existe a tal empresa, nem Dr. Chang,
nem nunca ninguém criou nem vendeu gatinhos Bonsai. Alguns classificaram
o hoax como de péssimo gosto, outros o acharam hilário, mas
certamente inteligente ele foi.
Alguns estudantes
americanos bolaram essa história fantástica, montaram um
site bem feitinho com fotos forjadas e um enredo mucho loco e puseram-se
a divulgar
a novidade através de postagens nos newsgroups da Usenet. Basta
visitar <www.deja.com>, procurar por
"Bonsai Kitten" e ver mais de 1.500 mensagens tratando sobre o tema. Atenção
especial aos newsgroups "rec.pets.cats", "alt.animals.felines", "alt.animals.rights",
"alt.fan.furry", "alt.lifestyle.furry" e "it.discussioni.animali.gatti".
A quantidade
de caras-de-pau que juravam que tinham Bonsai Kitten em casa era de chorar
de rir e as reações dos leitores eram explosivas às
vezes. Como resultado, circularam centenas de abaixo-assinados pela rede
e, por incrível que pareça, só pouquíssimas
pessoas sacaram logo de cara que a coisa dos Bonsai Kitten era apenas um
embuste. Notava-se que as pessoas mais sensíveis à lorota
eram as mulheres, sempre amorosas no geral e, no particular, cuidadosas
com seus bichanos queridos.
O site era
hospedado nos servidores do MIT (Massachusetts Institute of Technology)
e foi tirado do ar assim que começaram a chegar os primeiros protestos.
Segundo o administrador de redes do MIT, Jeffrey I. Schiller <jis@m...>,
o site foi preparado por várias pessoas. Pelo menos uma delas era
estudante do próprio MIT e usava o computador de seu dormitório
como servidor da página. Atencioso, porém supercuidadoso
com as palavras, Jeff fez questão de dizer que conversou com o mancebo
do MIT e certificou-se de que nenhum mal foi feito a qualquer gatinho por
ocasião da produção das tais imagens.
Disse também
que todas as fotos são trucadas e que em nenhuma delas o bichano
estava realmente enfiado dentro do vidro. Observando as fotos, é
difícil engolir essa, mas tudo bem. De acordo com o comunicado oficial
do MIT, a página foi de fato desativada no dia 22 de dezembro, mas
passou a ser reproduzida em diversos sites comerciais desde então,
ou seja, fora da jurisdição do instituto.
A entidade
protetora de animais Peta (People for
the Ethical Treatment of Animals), fundada em 1980 e hoje com mais de 700
mil associados, foi uma das primeiras organizações a desmascarar
a farsa, através da atuação rápida de sua representante
Anna West. Segundo ela, os criadores do site queriam apenas chamar a atenção
dos que apreciam animais de estimação e usar sua indignação
para disparar uma corrente de mensagens exacerbadas e raivosas. Bem, isso
os caras conseguiram." |