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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 09/09/00 22:52:02
Receita para pequenas fortunas 

Mário Persona (*)
Colaborador

Se você quer criar uma pequena fortuna, a receita é simples. Pegue uma grande fortuna, sua ou de investidores, contrate uma equipe para produzir um site de Internet, e saia vendendo espaço para propaganda. Mas não deixe faltar marketing. Se quiser imitar os grandes, o investimento na divulgação de seu negócio virtual deve ser algo em torno de 625% da receita que você obterá com a venda dos banners. Dê adeus ao mundo real. Seja bem-vindo ao mundo virtual.
Esta receita é infalível para se criar uma pequena fortuna. Da grande fortuna que você terá investido no início. Isto se sobrar algo daquilo que, em seus melhores dias, costumava fechar casas noturnas repletas de convidados. Não me deixam mentir as centenas de presuntos ponto-com que estão sendo desovados nas páginas dos noticiários econômicos. Seguidos por outros que estão sendo caçados pela realidade implacável das regras econômicas. 

Albert Einstein não conhecia a Internet, quando disse que "o único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário". Ele viveu antes que as bolhas virtuais tentassem revogar essa máxima, criando a ilusão de que na Internet a festa nunca acaba. Mas acabou. Pelo menos para os que beberam demais. 

Momento - Passado o delírio e tiradas do salão as vítimas do excesso, é hora dos sóbrios começarem a se divertir. Empresas e investidores. Mas nenhum deles poderá negar que chegou a ser tentado por um trago a mais na hora do "vira-vira-vira". Contiveram-se. Talvez tenham sido chamados de covardes, por terem evitado opções de alto risco. Ou miseráveis, por não estarem despejando pela goela da propaganda desenfreada a mesada de muitos pais.

No auge da volúpia em que se transformou essa falsamente chamada "economia", confesso que cheguei a ficar em dúvida se o caminho que havíamos traçado para a empresa era a melhor opção. A tentação de empresas como a Widesoft, de mergulharem nesse romance de verão, foi grande. Era fácil sentir inveja de empresas bem mais novas, sem qualquer estrutura ou serviço palpável, desfilando nas primeiras páginas dos jornais, vestidas de milhões.

Mas, deixar de lado a infra-estrutura de sistemas em que investíamos desde a era pré-Internet, teria sido loucura. Seria o mesmo que embarcar nos carros alegóricos dos sites cujo samba enredo era gerar-tráfego-e-vender-banner, acreditando que o carnaval iria durar. Seria abandonar nossa vocação inicial, que era de construtores de pontes. Sistemas que iriam ligar o mundo real ao virtual, para que empresas reais pudessem reduzir custos e aumentar seus lucros. Sem tirar os pés do chão.

Sensata - Hoje, enquanto assistimos ao desmoronamento dos castelos de sonhos, respiramos aliviados. Sentimos pelos que tombaram numa guerra perdida. Mas descansamos na certeza de uma estratégia sensata. Se não demos atenção aos acenos dos negócios etéreos desse período de acomodação tectônica da rede, foi porque estávamos ocupados assentando os trilhos do modelo de empresa de Internet que deve prevalecer daqui para a frente. De mãos dadas com o real.

Pelo menos é o que o mercado tem sinalizado, a julgar pelo número de empresas convencionais, nem um pouco carnavalescas, que vão engrossando nosso rol de clientes. Muitas delas cansadas e desiludidas com as miragens criadas por bem elaboradas peças de marketing, que conseguiam travestir o nada em lingotes de pirita para arrebanhar incautos.

Quem investiu muito no pouco ficou sem nada. Grandes fortunas viraram pequenas fortunas. Quem investiu o suficiente no muito, tem hoje os alicerces firmes para sustentar a revolução que nem começou. A hora é de valorização de empresas que já navegavam antes da onda, atravessaram a turbulência sem mudar de rumo, e seguem com todas as velas, dando adeus a um mundo apenas virtual. Seja bem-vindo ao mundo real.

(*) Mário Persona é diretor de comunicação da Widesoft, que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos via Internet, editor da Widebiz Week e moderador da lista de debates Widebiz.