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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 07/17/00 19:10:06
Mais vale um pássaro na mão 

Mário Persona (*)
Colaborador

Ser original. Algo que pouca gente está conseguindo hoje na Web. Estamos vivendo uma fase em que muitos negócios na Web não estão concorrendo ao prêmio de originalidade. Contentam-se com alguma menção honrosa de estereótipo de um site famoso. Se já nos acostumamos com os "covers" de cantores e bandas, chegou a hora de nos acostumarmos aos webclones, ovelhas Dolly idênticas e passivas, cantando todas em "bé" maior.
A diversidade de clones nos confunde, fazendo  pensar que temos diversidade de fato. Não temos. Os padrões de clonagem são tantos que acabam parecendo originais. Na realidade, mudam as tatuagens, mas os tatuados permanecem os mesmos. E a intenção é sempre agradar os já agradados. Porque parece ser jogo ganho.

Original? - Quem está com aquele site na cabeça, lê isto e reage. Retruca que sua idéia é original. Um portal sobre blá, blá, blá, que irá atrair um webilhão de visitantes. Receita certa para atrair investidores, convencidos de que os patrocinadores disputarão no tapa espaço para pendurar seus reclames. Exatamente como acontece na TV. Seguindo a doutrina do televisismo, a grande maioria dos chamados grandes negócios de Internet não passa de barra de calça aguardando carrapicho.

Serra-se aqui, prega-se ali, cola-se acolá e pinta-se tudo com cores bonitinhas para esconder o papel mata-mosca. "Faça seu site que eles virão", era a máxima utilizada pela primeira geração dos auto-proclamados gurus da Web, e ainda obedecida por muitos. O "eles virão" entregava o jogo. Para eles, o importante era atrair gente. E vender banner. Mira-se em um milhão para acabar sem nenhum na mão.

Ficar parado olhando para cima atrai, em questão de minutos, uma congregação de seguidores. Todos igualmente mirando o nada. Se indagado, o guru da recém formada seita do torcicolo irá argumentar que está dando àquelas pessoas o que elas estavam procurando, uma direção para olhar. Ainda que seja para o inóspito vazio.

É diferente - A fórmula da busca por audiência funciona na TV, onde o "mostre o que o povo quer ver" é a palavra de ordem. Tentar transplantar a mesma estratégia para a Web pode causar rejeição. No mundo televisivo temos meia dúzia de canais para entreter milhões de telespectadores passivos. Na Web temos milhões de participantes ativos em busca de interação com gente e informação. E cada um deles é um canal em potencial. Uma estação repetidora, se usarmos vocabulário de propagação de sinal de TV. Saber usar isso, e não querer atingir diretamente milhões de webespectadores, é o caminho seguro na rede.

Moral da história: na Internet ninguém conseguirá ser tão líder de audiência quanto consegue ser na TV. Moral da história dois: Os investimentos em propaganda na rede nem sempre serão suficientes para patrocinar tanto quanto na TV por estarem pulverizados em um universo de opções. Moral da história três: Pensar em atingir milhões é uma armadilha para o empreendedor Web. Seu foco deve estar no um a um. Para fazer com que o "um" alcançado seja o canal propagador no próximo um a um que ele próprio fizer.

Como ninguém é de ferro, confesso que eu mesmo sou levado a me embriagar com o sonho de campeão de audiência. Em um de meus artigos ponderei que, pela tiragem conjunta dos sites, jornais e revistas que publicam meus artigos, eu estaria atingindo um número de leitores na casa dos seis dígitos. Minha esposa e filhos, fiéis membros da "Brigada Familiar Anti-Orgulho", não deixaram por menos e aplicaram o antídoto. Segundo eles, a popularidade de meus artigos estaria restrita aos passarinhos. Já que as páginas que publicam minha coluna acabam mesmo é servindo de forração para gaiolas. E minha foto para o lazer dos penados, na hora do tiro ao alvo.

(*) Mário Persona é diretor de comunicação da Widesoft, que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos via Internet, editor da Widebiz Week e moderador da lista de debates Widebiz.