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Matéria publicada em conjunto com o jornal Real Perspectiva, edição 85, de Santos/SP
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 06/28/00 13:54:52
Baixada Santista poderia ser um site real para a Internet

Carlos Pimentel Mendes (*)

Parece até um paradoxo, mas é um fato: a qualidade de vida oferecida em certas regiões do Brasil pode ser mais determinante para a instalação de uma empresa da chamada Nova Economia, ou Economia Digital, do que fatores como custo para a instalação física e até mesmo que aspectos logísticos. Ora, se uma empresa pode usar os recursos das telecomunicações, especialmente da Internet, e se instalar em qualquer lugar do mundo, por quê haveria de levar em tão alta conta a qualidade do lugar que acomodará suas instalações físicas?

Algumas cidades já estão descobrindo o motivo e tratando de se ajustar a essa realidade. Falta que a Baixada Santista aprenda a salientar suas vantagens e correr atrás do prejuízo. Sim, prejuízo, porque nos novos tempos um ano tem apenas três meses, o mês demora menos de uma semana para passar, o dia parece que acaba algumas horas depois de começado. 

Pesquisa – A ficha caiu ao analisar uma pesquisa da revista Info Exame de maio, Pesquisa nacional dessa publicação nem citou Santos. Por quê?sobre as dez melhores cidades brasileiras para trabalhar em tecnologia – pela ordem: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Brasília, Campinas, Florianópolis, Blumenau e Joinville. Participaram ainda da pesquisa, ocupando as posições 11 a 20: Londrinha, Santa Maria, Uberlândia, Fortaleza, São José dos Campos, Ribeirão Preto, São Carlos, Ilhéus, Recife e Campina Grande.

Ora, por quê a Baixada Santista não aparece? Não foi Santos classificada oficialmente como uma das melhores cidades brasileiras em qualidade de vida? Não tem alto nível cultural, até por tradição? Não é um bom exemplo do espírito emprendedor que caracteriza o brasileiro, tornando-o um dos povos mais bem preparados para enfrentar os desafios da economia virtual? Não alia as facilidades e os serviços da capital paulista a um clima até mais gostoso que o do Rio 40 Graus? 

Não conta a cidade de Santos, cabeça da nova metrópole santista, com infra-estrutura de comunicações de qualidade bem superior à encontrada em outras cidades classificadas? Não conta com um conjunto de universidades que chega a ser responsável por um certo congestionamento no trânsito noturno, decorrente do grande afluxo de ônibus repletos de estudantes? Não tem um custo de vida bastante razoável, em comparação com outras cidades listadas? 

Mesmo em outros índices usados para a classificação, a região não destoa: frota de veículos, transporte urbano, leitos hospitalares, hotéis, agências bancárias, custo de uma unidade habitacional, grau de instrução médio da população... Vá lá, Santos não tem aeroporto (Blumenau também não), mas é bem provável que numa corrida entre um santista e um paulistano para chegar ao aeroporto de Congonhas, por exemplo, o santista ganhe com folga, devido ao complicado trânsito da capital paulista...

Negativo – Santos pode até não ter um porto aéreo, mas tem um porto marítimo, que é “apenas” o maior porto de carga geral da América Latina, com navios mercantes ligando com todos os principais centros mundiais. Não paga os melhores salários, mas isso quem decide não é a infra-estrutura, são as empresas. 

Afinal, são santistas muitas das cabeças pensantes que fazem a Internet brasileira e atuam em muitas das empresas de alta tecnologia, e se não estão em Santos, foi na cidade em que nasceram que adquiriram a visão cosmopolita e a base cultural que embasa seus conhecimentos. Mesmo não contando com os que saíram, até em termos de precentual de população plugada na Internet não é difícil adivinhar a posição destacada da região...

A Baixada Santista – que sempre se posicionou como um pólo de serviços – não soube atrair as sedes das grandes indústrias (mas conta com suas unidades fabris, em Cubatão), e em termos de economia digital globalizada isso aliás vai perdendo sentido; em compensação, começa a desenvolver projetos na Internet que despertam a atenção em outros países sulamericanos e europeus – recuperando uma tradição de destaque internacional que já possuía séculos atrás, quando o santista Bartolomeu de Gusmão, alcunhado Padre Voador – se apresentava nas cortes européias ascendendo aos céus num balão – só para dar um exemplo. 

Nas mais diversas áreas, é fácil observar como o resto do Brasil vai adiando decisões para esperar que Santos crie soluções, a serem depois adaptadas a outros locais – a aplicação da Lei de Modernização dos Portos foi um exemplo bem claro disso, na década que agora termina.

Então, se até a maior necrópole vertical do mundo foi construída em Santos, o que é que enterra o futuro da região, dificultando que usufrua das vantagens proporcionadas pela nova Economia Digital? 

Responder a isso vale uma tese de doutorado, mas algumas pistas poderiam ser investigadas: a falta de um trabalho de marketing para reverter a imagem de decadência econômica – imagem que acaba aumentando essa decadência, na medida em que uma empresa prefere se instalar num lugar em que a percepção do mercado indique progresso; a falta de gente com “cabeça de Internet” em postos-chave, capaz de criar situações que coloquem a cidade em destaque positivo neste novo mundo digital (onde está o teleporto de Santos – que sequer foi pensado, e teria importante papel numa cidade de tão importante movimentação de cargas e informações?). 

Será que ainda não chegou a hora de a Baixada Santista acordar para a realidade de um novo milênio marcado por bits em vez de átomos, um tempo em que tudo está sendo repensado e refeito, em que mesmo uma empresa formada por estudantes na garagem de casa pode se tornar maior do que grandes conglomerados industriais? Ou será que o lugar de Santos na Nova Economia tem de ser lá atrás, bem depois de Santa Maria, Uberlândia, Campina Grande, Londrina, Ilhéus, Blumenau... e talvez muitas outras que aparecerão nas próximas pesquisas?

(*) Carlos Pimentel Mendes é editor do jornal eletrônico Novo Milênio... e santista!