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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 05/03/00 16:37:14
Você já ouviu falar? 

Mário Persona (*)
Colaborador

Na minha opinião, o primeiro veículo de comunicação foi o ser humano. Sim, a própria pessoa, cujas pernas eram responsáveis por vencer o espaço e transportar a informação, gerada entre as orelhas e transmitida pela boca. A informação não só vencia o espaço  trotando, mas resistia à ação do tempo graças a um intricado conjunto de fatores que a transformava em tradição oral. A informação do "ouvi dizer..." e "soube da última?".

Por funcionar em uma rede dependente da memória e da boa vontade de seus depositários para passá-la adiante, a informação precisava apresentar algumas características. Precisava ser clara, para não dificultar a rapidez na retransmissão. E devia incutir credibilidade, levando na garupa uma boa dose de paixão para criar
o clima de urgência necessário à ação. Um caxangá que até os escravos de Jó sabiam jogar.

A invenção da escrita, por si só, não tornou a informação mais ágil. Sempre foi difícil competir com o rastilho de pólvora criado pelo "sabe o que me contaram?". Um político, quando abordado por alguém que queria lhe contar um segredo, negou-se a ouvir. "Se você que é o dono do segredo não está conseguindo guardá-lo, eu também não vou conseguir", justificou.

A transformação da informação em ideogramas ou caracteres não a tornou mais móvel de início. O software ainda ficava residente no hardware, o que transformava o envio de uma carta de amor à namorada em uma tarefa para poucos. Os e-mails da época eram digitados em paredes de cavernas encravadas em montanhas cuja capacidade de manter-se teimosamente no mesmo lugar é conhecida até hoje. Pelo menos a informação já podia existir sem a presença de seu criador.

Mobilidade - A tecnologia permitiu o passeio da informação, em peles de animais, tabletes de argila, papiros, até chegar no papel chinês. Era a mobilidade tão sonhada para transportar a informação ao redor do mundo. Caminha podia ficar no Brasil. Quem caminhava era sua carta. O princípio era o mesmo usado em lajes de pedra, mas a tecnologia já permitia um hardware mais portátil, ainda que restrito a alguns poucos escribas.

A grande revolução veio com a imprensa de tipos móveis, espalhando a informação como praga. Pelo menos era esta a opinião dos inquisidores, que não queriam perder os privilégios que só a ignorância coletiva permitia manter. A tecnologia causou uma evolução cada vez maior da mídia. Veio o telégrafo, uma versão melhorada do tambor das selvas, o telefone, o rádio e a TV. Porém até os meios chamados de comunicação de massa mantinham as massas em apenas uma ponta. Uma comunicação de mão única.

Volta às origens - A Internet fez a informação recuperar as características que tinha no passado, quando o veículo era humano. Implantou pernas mais longas, uma voz mais potente e ouvidos mais sensíveis no homem do século 21. E permitiu que o gerador da informação voltasse a ser também seu próprio veículo. A informação foi humanizada. Hoje, quem conseguir divulgar sua mensagem de forma clara, rápida, confiável e apaixonada, terá sucesso. Porque desde o princípio estas foram as características essenciais de uma boa comunicação, seja ela de idéias ou produtos.

Se você estiver entre os poucos que ainda não dormiram com minha aula de história, irá entender como essa evolução pode ter um grande impacto na forma de pensar o marketing de sua empresa. Hoje, qualquer um com acesso à tecnologia e à rede é um ser multimídia, capaz de interagir e publicar suas idéias. A Internet restaurou o poder da comunicação do "ouvi dizer", permitindo que sua mensagem seja multiplicada e retransmitida por cada pessoa que entrar em contato com ela.

Usando a ferramenta certa e colocando em sua mensagem temperos essenciais - clareza, rapidez, credibilidade e paixão - você terá sucesso no marketing de rede. As pessoas não estarão vendo um pássaro, nem um avião, nem um super-homem, mas a forma de comunicação mais poderosa já inventada. Com um poder de propagação igual ao de um boato ou vírus de computador transmitido pela rede. Algo só conhecido no passado, quando não havia nada além de boca e ouvidos. O poder da comunicação pessoal. Ou você nunca ouviu falar?

(*) Mário Persona é diretor de comunicação da Widesoft, que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos via Internet.