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Publicado pelo editor de Novo Milênio no caderno Informática do jornal 
A Tribuna de Santos em 4/1/2000.
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/04/00 09:37:52
Programa santista facilita uso do PC pelos deficientes visuais

Blindsoft lê os comandos e os textos digitados em ambiente Windows

Primeiro software nacional para portadores de deficiência visual a ser produzido por estudantes em universidade particular, o Blindsoft foi desenvolvido em 1999 por um grupo de alunos do curso de Ciência da Computação da Universidade Santa Cecília (Unisanta), como trabalho de conclusão do curso. Em 2000, os autores, mesmo formados, pretendem continuar aperfeiçoando o programa (que não tem fins lucrativos), por meio de contatos com instituições ligadas aos deficientes visuais.

Tela do programa Blindsoft
O software foi demonstrado no final de 1999 na presença de Alzer Augusto dos Santos, deficiente visual e estudante de Direito, que colaborou com o projeto e presta assistência a outro deficiente visual, estudante do curso de Jornalismo da mesma universidade, Marcos Antonio de Andrade. Alzer trabalha com informática há alguns anos, tendo montado um curso de Computação para o Lar das Moças Cegas. 

O Blindsoft foi desenvolvido em linguagem Delphi, em ambiente Windows 95, usando a placa de som SoundBlaster para emitir os sons. Eles funcionam como uma espécie de guia ao usuário, que pode abrir e fechar arquivos, editar textos, copiar, ler, apagar e renomear arquivos, entre outras operações simples. Assim, o deficiente visual pode escrever seus trabalhos, lê-los e mostrá-los a outras pessoas, que também poderão lê-los normalmente na tela do computador, não havendo necessidade do método Braille.

A equipe desenvolvedora foi integrada pelos estudantes Rodrigo Silva de Araújo, Marcus Vinicius dos Santos, Regina Yumi Omizo, Eduardo da Silva Oliveira e André Luiz Saad. Os alunos foram orientados pelos professores Fernando Branquinho e Carlos Coletto. 

“Trata-se de um trabalho de conclusão de curso, que reflete o que a faculdade investiu em nós em termos de conhecimento – explica Rodrigo -. O tema escolhido pelo grupo foi avaliado pelos professores e tivemos menos de um ano para desenvolver o programa. A idéia surgiu quando vimos um deficiente visual usando um sistema simples para DOS, com recursos modestos. Tentamos apresentar um programa que partisse de uma interface visual”.

Tela do programa Blindsoft
Dificuldades – “Fizemos um levantamento dos sistemas existentes para a interação entre o deficiente visual e o computador e tivemos uma surpresa, o nível de desenvolvimento estava além do que imaginávamos. Um banco vinha desenvolvendo um sistema assim há três anos, mesmo tempo em que atuavam alguns professores de uma universidade do Rio de Janeiro. Poderíamos trocar experiências com eles, mas resolvemos desenvolver um sistema independente dos demais, e livre para outros trabalharem sobre ele.”

Rodrigo continua, explicando que seu grupo desenvolveu um sintetizador que permita ao deficiente ouvir o som como resposta e ter assim consciência do que estava fazendo no computador: o sintetizador narra todos os processos. Há um aplicativo que oferece recursos como os do Explorer do Windows 95, como copiar e mover arquivos. 

“Fizemos um estudo linguístico em cima de fonemas, pois a divisão convencional das sílabas deveria atrasar o desenvolvimento. Trabalhamos a partir da estrutura clássica da palavra: na divisão convencional, [carro] é palavra com dois erres, com a divisão silábica [car-ro]. Mas ninguém lê assim. Por isso, montamos a divisão como [ca-rro]. Da mesma forma, [casa] tem [s] entre duas vogais, e neste caso a letra tem zom de [z]; [exercício] é com [x] mas também com som de [z]. Desenvolvemos uma alternativa que trabalha com esse conceito mas de forma a reproduzir os sons de forma rápida e clara, usando mais de 5 mil sílabas gráficas que se reduzem a cerca de mil arquivos ([cha] e [xa], por exemplo, são foneticamente o mesmo som).”

“O apelo visual – lembra Rodrigo - é o que mais atrai quem enxerga. Procuramos dar um visual agradável para quem está vendo o sistema funcionar, mas ainda assim dando segurança ao deficiente. O programa verifica consistências como alertar que um disquete está protegido contra gravação, por exemplo, embora ainda não tenha condições de alertar de forma sonora na ocorrência dos erros gerais de proteção do Windows (GPFs).

“O sistema santista é parecido com o DosVox, desenvolvido no Rio de Janeiro, que funciona no Windows mas usando uma janela do DOS. A forma de leitura é parecida, mas o Blindsoft atua diretamente na plataforma gráfica, o que representa um avanço sobre outros programas. Inclui ainda um bloco de notas, parecido com o Notepad do Windows, que pode ler o texto digitado tanto na forma fonética como citando ainda a pontuação e os parágrafos. Também inclui um teclado com resposta audível, para facilitar o treinamento na digitação, que pode servir como ponto de partida para aperfeiçoamentos a serem implementados pela próxima turma de quartanistas do curso”, completa Rodrigo.