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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/16/00 17:35:12
Internet a Dois

Mário Persona (*)
Colaborador

Uma das mais fantásticas características da Internet é podermos participar de seu início, quando pessoas comuns podem inaugurar empreendimentos pioneiros. Na infância da aviação, os primeiros aviões não eram construídos por engenheiros aeronáuticos, nem pilotados por pilotos profissionais. Era algo tão novo que eram fabricados na garagem, seus combustíveis misturados na cozinha e as decolagens aconteciam em um pasto no quintal. A Internet, como ambiente de negócios, ainda está assim. E isto permite que casais empreendedores e apaixonados unam o útil ao agradável e comecem um negócio a dois.

Mas antes que os leitores do sexo masculino fiquem muito animados com a idéia, é bom saber que mesmo a Internet não irá encantar uma esposa com os pés no chão. Qualquer negócio novo, mesmo entre apaixonados, deve ser precedido de um estudo de viabilidade frio e isento de paixões. Neste ponto, as mulheres ganham um ponto. Ao contrário dos maridos, que se empolgam facilmente, elas são mais realistas e querem saber a relação custo-benefício de qualquer vazamento do orçamento familiar. Faz lembrar a piada de Thomas Edison, quando inventou sua primeira lâmpada. Tomado de empolgação, gritava da sala de sua casa no meio da noite: "Querida! Querida! Inventei a lâmpada!". Do quarto veio a voz de sua esposa: "Tá bom, Tá bom! Agora apaga essa luz e vem dormir."

Novos recursos - Negócios de sucesso administrados por casais não são novidade. Muitas grandes empresas começaram na cozinha ou na garagem. Hoje, com a dificuldade crescente para se conseguir um emprego, os casais voltam a arregaçar as mangas em empreitadas caseiras que acabam virando negócios rentáveis. 

Graças à Internet, os recursos hoje à disposição de um pequeno negócio doméstico são muito maiores que os utilizados por grandes empresas há vinte ou trinta anos. A comunicação passou a ser instantânea e a distância deixou de ser problema. Se a Internet tivesse sido inventada antes, a história de Romeu e Julieta não seria um caso terminando em tragédia, mas um "case" de uma bem sucedida joint-venture entre as famílias Capuleto e Montechio 

É cada vez maior o número de pessoas trabalhando em casa e utilizando a Internet profissionalmente. Cerca de 15,3 milhões de norte-americanos que trabalham em casa estão hoje conectados à Internet. Segundo previsão da Link Resources, uma empresa de pesquisas de Nova Iorque, espera-se que este número salte para 35,7 milhões no ano 2000, quando haverá 55 milhões de pessoas trabalhando em casa. Considerando que hoje muitos negócios nascem e crescem em torno de grandes centros de trabalho, como fábricas e edifícios de escritórios, o aumento do número de pessoas trabalhando em casa irá gerar um aumento no número de negócios voltados para esse mesmo público: pessoas que compram sem sair de casa.

Algumas empresas domésticas já operam hoje 100% on-line, comprando e vendendo seus produtos, informações e serviços via Internet. Outras compram on-line para vender no comércio convencional, ou vice-versa. Há ainda aquelas que operam nos moldes convencionais tanto na compra como na venda, mas mesmo assim não deixam de investir na Web como ferramenta de marketing e suporte ao cliente.

Aproveitando a infância da Internet, muitos casais podem começar empresas com um capital que tornaria inviável um negócio convencional. Em lugar de uma loja de tijolos em um ponto comercial caro, criam um site tão visível quanto os grandes magazines. Ou mais até, dependendo da criatividade do casal. A possibilidade de automatizar o atendimento elimina a necessidade de funcionários, e com um marketing criativo utilizando a rede pode-se fixar a imagem da empresa de forma muito mais barata do que usando a mídia convencional. Quando o marketing é bem feito, ninguém irá desconfiar que o presidente trabalha de pijama.

Algumas empresas virtuais seguem à risca sua vocação virtual. Ao invés de manipularem estoques físicos, organizam parcerias com distribuidores convencionais já estabelecidos e passam a ser apenas um canal de vendas. O site vende, mas quem entrega é o distribuidor que, por sua vez, paga uma comissão aos donos do site. Assim um casal pode criar uma rede de supermercados com um capital que não daria para abrir uma quitanda. Tudo vai depender de aproveitarem um momento único da história, quando a Internet ainda experimenta sua lua-de-mel. E talvez não exista oportunidade melhor do que esta para se começar um negócio a dois.

(*) Mário Persona é diretor de comunicação da Widesoft, que desenvolve sistemas para facilitar a gestão da cadeia de suprimentos via Internet. Artigo distribuído em junho de 1999.